segunda-feira, 19 de março de 2012

Um simples vestido negro



Criada quando Napoleão ambicionava subjugar o mundo, a Guerlain sabe de moda e beleza como ninguém. Não admira, por isso, que tenha chamado "La petite robe noir" à sua mais recente fragrância. Nenhuma peça de vestuário evoca tanto (fantasia, elegância, sedução, glamour) como esta, que Audrey Hepburn imortalizou no clássico filme Breakfast at Tiffany's.


É uma referência da elegância no feminino, um básico, um objecto de culto. La petite robe noire, the little black dress ou o vestidinho preto. Três designações da indumentária feminina que encerra em si todo o potencial devastador da sedução e da discrição... eis o segredo. Estrelas como Madonna, Nicole Kidman, Halle Berry, Juliette Binoche, Cate Blanchett, Kylie Minogue são apenas alguns exemplos da legião de atrizes que não o dispensam nas cerimónias oficiais. Na verdade, as mulheres mais belas do mundo habitaram-no desde que surgiu, com uma graça inolvidável. De Sophia Loren a Marilyn Monroe, de Grace Kelly a Ava Gardner, de Brigitte Bardot a Catherine Deneuve, de Jackie Kennedy a Paloma Picasso e tantas, tantas outras. 

   Pode usar-se preto a todas as horas, em qualquer lado e em todas as ocasiões (à excepção de um casamento). "O vestidinho preto é a peça mais essencial em qualquer guarda-roupa feminino nos tempos que correm", escreveu Christian Dior em 1954. Mas porquê tanto alarido quando o que marca e distingue esta peça é precisamente o seu despojamento e a sua simplicidade quase insultuosa para os espíritos mais barrocos? Ou não viesse a sua inspiração das balconistas parisienses de finais do século XIX, princípios do século XX, que o usavam como farda porque lhes estava vedado o acesso ao luxo que vendiam. Assim como pretos eram os vestidos da tristeza, quando usados por viuvas ou orfãs. Ou o traje dos monasticos, a simbolizar a austeridade levada ao extremo. Onde está o esplendor do luto, a sedução da bata e da renúncia? Seria preciso mais do que simples talento para o descobrir. Coube a honra a Mademoiselle Chanel que, pegando neste quase nada, transfigurou-o, dotando-o de um caráter impossível, de uma elegância e sensualidade avassaladoras. Foi com esta e outras peças, libertando o corpo de constrangimentos e tornando-o livre para ousar a alegria, que Chanel viria a criar uma corrente que ficou para a História com um nome: o chic pauvre. Uma "pobreza" complementada, convenhamos, por torrentes de pérolas, diamantes, envolta num aroma único, o Chanel nº5.

2 comentários:

  1. Fantástico anúncio. Apetece ir a correr comprar!
    E assenta muito bem no teu texto.
    Uma nota discordante, subjectiva: prefiro o Chanel 19!

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