terça-feira, 3 de abril de 2012

Os homens nem sempre preferem as louras


Hedy Lamarr, uma das morenas mais apreciadas do Cinema

Na África negra a cara perfeita não é necessariamente a da milionária Naomi Campbell. Para algumas tribos, por muito irradiante que seja a estrela da vedeta negra, faltar-lhe-ia sempre um corte na auricular, uma determinada tatuagem de carga simbólica ou uma dentadura como manda o figurono, isto é, com os incisivos devidamente limados. Práticas e gostos impensáveis entre nós, herdeiros de um conceito clássico de fisionomia.
  Até à Revolução Francesa, uma bela mulher ocidental teria de ser loura como Isolda e branca como uma estátua jacente. Quanto ao conjunto fisionómico cantar-se-iam odes à que conseguisse combinar olhos, sombrancelhas e pestanas negras com uma boca pequena, mas muito vermelho, um nariz da maior delicadeza e uma dentadura irreprensivelmente branca (a tal que, pela mesma épica, as japonesas pintavam de negro). Enquanto, por circunstâncias históricas de todos conhecidas, Camões se perdia de amores pela chinesa Dinamene e Pêro Vaz de Caminha falava a D. Manuel I, Rei de Portugal e dos Algarves, da magnífica nudez das índias encontradas nos Brasis, rainhas, ninfas, deusas e comuns mortais europeias eram todas representadas pela arte à imagem e semelhança desse ideal classicizante que os estetas da época tinham por superior.
   Senhora, ou não, de todos os tesouros fisionómicos acima descritos, Maria Antonieta, Rainha de França, cultivava com tal requinte a brancura da sua pele que, segundo uma lenda de duvidosa veracidade, fez comover o carrasco quando a lâmina da guilhotina se abateu sobre o seu real pescoço. Fosse assim ou não,  o facto é que os manuais de beleza setecentista incluíam receitas tão infalíveis como dispendiosas para assegurar o tal rosto branco e luzidio com que se sonhava. No ano de 1700, Digby, autor de Nouveaux Secrets de la Beauté des Dames, recomendava às suas leitoras o uso de "leite de burra, cascas de ovo e água destilada". Objetivo: obter o tom diáfano com que o sedutor inglês, Lovelace, sonhava: peles tão imaculadas que quase davam a ver as veias azuis das damas. Estes conceitos de beleza, tão válidos como quaisquer outros, anteriores ou posteriores.

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